terça-feira, 12 de dezembro de 2006

Hoje, no jornal O Público

«Educação: uma oportunidade perdida

A participação dos portugueses em matéria de cidadania activa reduz-se ao mínimo possível e acaba invariavelmente por resvalar para o conformismo e resignação. O país não precisa apenas de reformas na administração pública; não precisa apenas de combater o défice; o país precisa de uma verdadeira revolução das ideias, o país precisa de cidadãos activos que se interessem e que pensem sobre as grandes causas. Todavia, a ausência de espírito crítico e a inexistência de um debate de ideias constituem paradigmas de uma democracia que ainda se encontra longe da sua consolidação. Além disso, o problema agrava-se quando se verifica que não se está a fazer o suficiente para inverter esta tendência, muito pelo contrário - as novas gerações estão condenadas ao mesmo destino.
A educação teria a este nível um papel absolutamente determinante; contudo, a escola está impregnada por uma lógica que propagandeia a falta de rigor, a irresponsabilidade e a ausência de valores. Vive-se num contexto onde impera a indolência. Faz-se a apologia de tudo o que não exija muito esforço, em particular tudo o que evite o recurso a qualquer tipo de exercício mental - esta é a lógica que muitos acham adequada para servir a educação. Toda esta situação se agrava com o facto de se viver num ambiente onde se dissemina endemicamente a vacuidade. Desde logo, nas escolas o rigor e a exigência são palavras desprovidas de sentido, a própria filosofia da escola promove subrepticiamente a falta de rigor e a irresponsabilidade. A escola tenta atabalhoadamente adaptar-se a um mundo global em constante mutação, respondendo-se assim improficuamente às novas realidades sócio-económicas e multiculturais de um ensino massificado.
Assistimos a acerbas discussões sobre educação e sempre que se fala em educação descura-se esta questão fundamental: a escola deixou-se encantar pelo politicamente correcto, não se entusiasma com o espírito crítico ou com a refutação de ideias. Desta forma, as escolas deixam de ser apenas depósitos de crianças e jovens e passam a ser também fábricas de cidadãos desinteressados, amorfos e incultos. Porquanto, está-se a criar uma sociedade onde não se valoriza a ideia e o pensamento; esquece-se que é assim que tudo começa... com uma ideia!
Na verdade, está-se a perder uma iniludível oportunidade para se acabar com este deserto de ideias e de vontades que se chama Portugal; a escola deveria ter nesta matéria um papel central. É impreterível que o cidadão tenha um papel preponderante num Estado democrático, e a escola deve ter como missão primordial a valorização do papel do cidadão activo, crítico e responsável. Ora, esta é uma oportunidade que não pode ser contemplada com a habitual displicência. Se nada for feito para contrariar este défice no plano da cidadania activa, teremos um país onde imperará a resignação, a irresponsabilidade e o egocentrismo. Este contexto desfavorável à democracia constitui, contudo, terreno fértil para a demagogia e para a manipulação. »
Ana Gonçalves, Arrentela-Seixal

5 comentários:

Miguel Pinto disse...

Olá IC.

IC disse...

Olá Miguel ;)

IC disse...

P.S.:
Uf! Estava a ver que não conseguia publicar o meu olá! Esta versão beta do blogger é esquisita.

Miguel Pinto disse...

É verdade... eu tive necessidade de me registar novamente no blogger para deixar comentar... esta coisa dos betos é estranha ;)

IC disse...

Pareceu-me que os blogs criados a partir de 10 do corrente mês têm que ser betos... ai, queria dizer versão beta ;)